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Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Uma idosa de 72 anos, analfabeta, viúva e moradora da periferia de Fortaleza (CE), tornou-se personagem central em um dos maiores escândalos de fraudes contra aposentados do país. Francisca da Silva de Souza, que complementa a renda como manicure, aparece formalmente como presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (Aapen), entidade que em 2024 chegou a ter quase 492 mil associados e movimentava milhões de reais por mês em descontos de benefícios do INSS.
Segundo a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU), o esquema envolvendo a Aapen e outras associações pode ter gerado prejuízos de até R$ 6 bilhões a milhares de aposentados.
Leia também: Escândalo de descontos não autorizados no INSS repercute na ALESC
Nesta semana, a Defensoria Pública do Ceará ajuizou uma ação afirmando que Francisca foi usada como laranja. A instituição argumenta que ela nunca exerceu funções de gestão e que foi enganada por advogados que a fizeram assinar documentos sob a promessa de um empréstimo.
De acordo com a Defensoria, a idosa passou a receber centenas de cartas de cobrança de pessoas lesadas e já responde a mais de 200 processos na Justiça.
“Resta evidente que não se trata de presidente ou administradora de qualquer associação, mas sim de uma hipervulnerável enganada por pessoas inescrupulosas”, destacou a Defensoria no processo.
Em 2023, Francisca foi abordada por uma mulher identificada como Liduína, que a convenceu de que tinha direito a um empréstimo. Ela então foi apresentada a um grupo de advogados, que lhe entregaram documentos para assinar. Na prática, a idosa foi registrada como presidente da Aapen sem sequer compreender a extensão do ato.
Mensagens anexadas ao processo mostram Francisca reclamando das cobranças e manifestando medo de que seu CPF fosse cancelado. Em uma das respostas, um dos advogados a tranquiliza dizendo que isso não ocorreria.
A Aapen já foi presidida por Cecilia Rodrigues da Mota, advogada investigada pela PF na Operação Sem Desconto, deflagrada em abril para apurar as fraudes no INSS. Cecilia também esteve à frente da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB), outra entidade suspeita.
Relatórios policiais indicam que presidentes de ao menos dez associações atuavam apenas como laranjas, entre eles o nome de Francisca. Segundo a investigação, o escritório de Cecilia movimentou valores de associações investigadas e os repassou a empresas ligadas a familiares de servidores do INSS.
Atualmente, há 13 inquéritos da Polícia Federal em andamento em diferentes estados, como São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Sergipe e Distrito Federal. Até o momento, a PF já apreendeu R$ 176,7 milhões em bens, bloqueou contas bancárias e prendeu preventivamente dois investigados.
Enquanto isso, familiares de Francisca buscam provar na Justiça que ela não teve participação ativa nas fraudes e que foi usada de forma abusiva por pessoas de maior instrução.
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